Thursday, December 10, 2009

A FARSA DOS PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DE SIÃO


[Para ampliar fotos e legendas, clique na ilustração acima]



Ainda há bobos (ou pessoas de má-fé) que acreditam (ou fingem acreditar) num “documento” comprovadamente forjado em fins do século XIX pela polícia secreta do czar


Evandro da Nóbrega
ESCRITOR, JORNALISTA, EDITOR
[http://druzz.blogspot.com]
[druzz.tjpb@gmail.com]



Este material é também publicado nos seguintes URLs:

*Blog Cultural El Theatro, de Elpídio Navarro [www.eltheatro.com];

*Portal PS on Line, de Paulo Santos [www.psonlinebr.com] e

*Jornal A União On Line [www.auniao.pb.gov.br]



Há alguns dias, sem se identificar, alguém telefonou para emissora de rádio local, que no momento apresentava entrevistas e debates. Ao telefone, o ouvinte desconhecido aconselhava enfaticamente: “Leiam os Protocolos dos Sábios de Sião! Leiam os Protocolos dos Sábios de Sião!”...

Os radialistas ficaram sem saber o que danado era aquilo. Alguém arriscou: “Talvez seja um doido com mania de falar coisas incompreensíveis”.

Coin­­cidiu que o entrevistado seguinte foi Edivaldo Nóbrega, secretário estadual do Desenvolvimento e que vem a ser meu terceiro irmão. Quando lhe relataram o telefonema sobre os tais Protocolos, o mano aconselhou: “Liguem pro Druzz (eu, Evandro), que ele explica tudim”. Os radialistas pensaram então numa entrevista comigo em torno do assunto.

Precisa entrevistar, não! Nesta página de A União, Universidade Viva do Jornalismo, tento explicar didaticamente este negócio de Protocolos dos Sábios de Sião. Algo que deveria ser, aliás, do conhecimento de qualquer cidadão antenado com a realidade mundial.

Primeira coisa a ser dita: quem liga para uma emissora recomendando que as pessoas leiam os tais Protocolos dos Sábios de Sião, só pode ser

1) ignorante ou desinformado;

2) ou de má-fé;

3) ou os itens anteriores juntos — sem descartarmos a já referida sugestão de doidice. Isto porque, desde 1921, ficou indubitavelmente provado & comprovado que esses Protocolos não não passam de grosseira falsificação, de grotesca farsa.

Hoje, não pode haver, no Mundo, alguém educado, culto, informado, que ainda ache ter esse amontoado de baboseiras algum laivo de veracidade.

Vamos começar pelo começo. Em 1903 e 1905, na Rússia, apareceram — respectivamente em jornal e em livro — uma catadupa de mentiras antissemitas com o título de Os Protocolos dos Sábios de Sião. Era uma espécie de minuta de um “plano conspiratório judaico-maçônico” visando a substituir o Capitalismo e o Cristianismo, em particular no Ocidente, por nova ordem mundial, sob o comando os judeus e maçons.

O “livro” surgiu justamente na Rússia, país de longa tradição anti-semita, para justificar pogroms, os incríveis massacres de judeus, escolhidos como bodes expiatórios das frustrações sociais. Doença multissecular, o anti-semitismo obviamente não nasceu na Rússia e dela não é exclusivo. E o insano e inexplicável ódio que lhe é subjacente não se dirige só a judeus: atinge também árabes, negros, “bruxas”, homossexuais, “magos”, deficientes físicos et alii.

No russo original, os Protocolos chamaram-se Protokoly sionskikh mudryetsov [= Protocolos dos Sábios Sionistas], reduzido para Sionskie Protokoly [= Protocolos Sionistas]. Outra designação: Programma zavoevaniya mira evreyami [= Programa de dominação mundial pelos judeus]. Hoje em dia, são alguns países árabes e o Irã que irresponsavelmente mais disseminam edições desse lixo histórico, por irracional ódio gratuito à democracia representada por Israel.

Anti-semita & anti-Revolução

Além de perfídia contra judeus, maçons e a inteligência das pessoas, os Protocolos serviram à perfeição a reacionários russos e estrangeiros. Muitos dos revolucionários de 1917 eram efetivamente judeus. Entre esses, encontravam-se alguns dos mais educados cidadãos, vez que é de todos sabido ( embora o ressentimento antijudaico impeça a muitos o reconhecimento público desta verdade): o judeu, como regra, sempre privilegiou o saber, a escrita, a vida do espírito, a preservação da experiência para a posteridade.

Era do interesse dos czaristas e dos reacionários externos fazer com que parecesse verdadeiro aquele falso plano de dominação mundial “patrocinado” por Sião (Zion é outra forma de dizer Israel ou “o povo de Israel”).

Os Protocolos — com várias edições ou em séries na Imprensa, panfletos, livros etc — apareciam como a trancrição de fictício encontro secreto, mantido em 1897, na cidade de Basiléia, Suíça, por líderes judeus e maçons. Nesse imaginário encontro, tais lideranças propunham um “plano” de dominação mundial — absurdo em que alguns poucos infelizes gatos pingados ainda hoje creem.

Quem acredita em patranhas tais de normal tem obsessão por teorias conspiratórias, lendas urbanas, invasão de alienígenas, permanente desconfiança em tudo — e há até quem sofra de graves problemas mentais. São também indivíduos de má-fé, soturnos, doentios, ideologicamente deformados, com parti-pris pelas mais insensatas doutrinas.

Além de embuste, um caso de duplo plágio

Em Londres, no ano de 1920, apareceu o livro O perigo judeu, que outra coisa não era senão a transcrição dos falsos Protocolos. À mesma época, circulou em Paris uma tradução francesa. Havia o objetivo, não enxergado pelo público leitor influenciável, de dar veracidade aos falsos Protocolos.

Os “protocolos” teriam sido “descobertos” por um tal Serguiêy Nilus, servidor do regime czarista (parte do qual tinha todo o interesse em disseminar a perseguição popular aos judeus e, como depois se tornou óbvio, em desmoralizar a esquerda revolucionária russa). Mas, em 1921, o conceituado jornalista Philip Graves, correspondente de The Times de Londres em Constantinopla, investigou o caso a fundo.

E descobriu terem sido esses papéis simplesmente forjados pela Okhrana, a polícia secreta do czar. E, além disto, haviam sido plagiados, em grande parte, de duas obras obscuras: a) uma sátira a Napoleão III, escrita por advogado francês e publicada em Genebra e Bruxelas (1864 e 1865); e b) um romance fantasioso saí­do na França.

O rigoroso The Times imedia­tamente localizou os originais dos livros que haviam servido de base aos Protocolos — e a farsa foi inteiramente posta a descoberto. Enfim, os Protocolos não passavam (e não passam) de um plágio de outros plágios!... E toda a trama foi confessada, também, por um “russo branco” — um antibolchevista que lutava contra o novo regime comunista: um certo Mikhail Raslovlev, com ligações com a tal polícia secreta czarista.

Ocorre hoje o que ocorria então: as pessoas não leem, não se informam, e ficam acreditando em tudo quanto é invenção. Muitas têm até necessidade compulsiva de crer nas mais disparatadas lorotas — adoram ser enganadas. Como dizia aquele famoso dono de circo americano: “Você não perderá dinheiro se apostar na credulidade humana”...

No Brasil, só historiadores racistas aceitaram essa armação

Outra prova de que os Protocolos foram usados como arma política: na edição americana de 1919, as referências aos judeus viram-se substituídas por alusões aos comunistas soviéticos. No Brasil — onde tivemos nosso protocolozinho, sob a forma da farsa do Plano Cohen, em 1937, que resultou no Estado Novo —, somente escritores manifestamente racistas deram crédito aos Protocolos.

Em termos mundiais, hoje em dia, apenas regimes fanaticamente retrógrados, como o vigente no Irã, ainda aceitam os Protocolos como autênticos. Liderados por reconhecidos analfabetos em História, regimes teocráticos assim como esse não compreendem haver insanáveis discrepâncias entre diferentes versões dos “manuscritos”, que mudam de título e/ou de conteúdo conforme a língua e o país em que circulam.

Os defensores da insustentável autenticidade dos Protocolos são os mesmos analfas que pretendem negar a realidade do Holocausto, responsável pelo deliberado genocídio de 6 milhões de judeus na Europa hitlerista.

Pode-se até ver Mein Kampf, o “livro” do doido-ruim Adolf Hitler, como versão amplificada dos Protocolos. Antes de lerem as coisas que devem realmente conhecer, muitas pessoas vão logo acreditando, de cara, em doutrinas estapafúrdias, desde que atendam a seus vieses político-ideológicos. Assim, da próxima vez que alguém disser “Leia os Protocolos dos Sábios de Sião”, responda:

Leia você, na Encyclopaedia Britannica, o artigo ‘Protocols of the Lear­ned Elders of Zion’, que assim começa: os Protocolos constituem documento fraudulento que primordialmente serviu como pretexto e racio­nalização para o anti-semitismo de inícios do século XX...

Mas sabe o que um desses capadócios me respondeu? “É em inglês, não é? Não vou ler, não. Inglês é a língua de capitalistas, de imperialistas. Não quero negócio com qualquer coisa que venha dos EUA”.

O que é que se vai fazer com uma pessoa assim, a não ser cruzar os dedos para que a internem?! Esses retardados da Cultura presumem ter a “cabeça feita” e não querem queimar as pestanas, ler alguma coisa que preste. São efetivamente analfabetos funcionais: podem até ler alguns textos, mas não os compreendem — e compreendem ainda menos os contextos históricos que os produziram.

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[Publicado originalmente na última página da edição do jornal A União, de João Pessoa, PB, no domingo, 6 de dezembro de 2009]

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1 comment:

Anonymous said...

É complicado, parece um livro armado contra os judeus de fato, porém carregado de "profecias" que se cumpriram, quanto as coisas que aconteceram, seja la quem escreveu, sabia de muitas armações