Monday, May 31, 2010

SOBRE CLOTILDE SANTA CRUZ TAVARES


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JORNAL A UNIÃO

Domingo, 29 de maio de 2010

Clotilde, a sacra endiabrada da Net [1/2]

Neste e no próximo domingo, busca-se traçar o perfil da médica e escritora paraibana que lidera movimentados blogs e listas de discussão na Web nordestina

EVANDRO DA NÓBREGA

Escritor, Jornalista, Editor

http://druzz.blogspot.com

druzz@reitoria.ufpb.br


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Este artigo — publicado originalmente no jornal A União, de João Pessoa (PB), edição de 29 de maio de 2010 — é também gentilmente reproduzido pelos seguintes URLs:

- Blog Cultural EL THEATRO, de Elpídio Navarro:

www.eltheatro.com

- Portal PS OnLine, de Paulo Santos:

www.psonlinebr.com

- Portal Literário RECANTO DAS LETRAS:

http://recantodasletras.uol.com.br/autores/druzz

- Portal do Jornal A União On Line:

www.auniao.pb.gov.br

- Blog DRUZZ ON LINE, de Evandro da Nóbrega:

http://druzz.blogspot.com


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Esta Clotilde Tavares é mesmo uma danada. Apronta em todas. Não se sabe onde arranja tanta energia para se tornar assim presente, quase em simultâneo, nos mais diferentes, díspares e entre si longínquos sítios e atividades.

Agora mesmo, vimo-la, em João Pessoa, no caleidoscópio de eventos que foi o XIII FENART ministrando aulas teórico-práticas de Literatura de Cordel. Como? Não, não, minha senhora! Clotilde não é poetisa de bancada, cordelista, cantadora de versos de feira, não! Quer dizer: ela não é SÓ ISTO. Quando quer, sim, transforma-se TAMBÉM em cultora & produtora (das boas!) de versins de cordel. A ponto de há muitos anos ser professora desses "versins" aqui, na Paraíba, no Rio Grande do Norte, em Pernambuco e onde mais se fizerem necessários seus excelentes serviços de mestra desenrolada e culta.

Em verdade, Clotilde Santa Cruz Tavares SÃO muitas mulheres numa só. É o que chamaríamos de Jackie-of-all-trades, com base no inglês Jack-of-all-trades, o Faz-Tudo, o Factotum, o pau-pra-toda-obra, a pessoa que faz de um tudo — e o faz bem. Clotilde é formada em Medicina, Nutrição, Higiene, Saúde Pública e sabe-se lá em mais quê. Já escreveu vários livros sobre os mais diferentes e até inimagináveis assuntos. Igualmente é romancista, historiadora, contista, memorialista, dramaturga, poetisa, professora (inclusive de inglês), atriz, declamadora, blogueira, twitteira...

Vive com um pé em Natal (RN), outro em João Pessoa (PB), outro em Recife (PE), outro em... Bem, isto não quer dizer que ela tenha mais pernas que as pessoas comuns. É porque dispõe de tal mobilidade, no tempo e no espaço, que por vezes parece aqueles personagens de quadrinhos em que a multiplicidade de pernas constitui somente um recurso do desenhista para representar sua azáfama.

Inteligência e criatividade são apanágio do clã, da grei de Clotilde, produto especialmente surgido de duas ilustres famílias nordestinas: os Santa Cruz e os Tavares. A própria Clotilde — não por orgulho besta de nobiliarquia, mas por interesse na História — mantém na Internet site muito bem ilustrado (até com fotos antigas, comme il faut) justamente sob o título de "O Clã Santa Cruz". Exibe origens, ascendência, descendência, histórias curiosas e et aliasobre seus destacados parentes de ontem e hoje.

Permanentemente ocupadíssima, Clotilde ainda encontra tempo, desde 2006, para cascavilhar a Genealogia e da História de sua(s) família(s), aí incluídos os Salgado e os Calado, entre outras estirpes nordestinas. Dedica-se, "com paixão, a essa pesquisa que tem me trazido muitos momentos felizes, de reencontro com parentes queridos e de novas amizades com aqueles que eu não conhecia". O que está em seu site genealógico "ainda é bastante provisório,com muitos dados a serem comprovados ou pesquisados". De um modo ou outro, os Santa Cruz, Tavares, Calado, Salgados e outros podem nesse espaço virtual "compartilhar comigo o orgulho" de pertencerem a estes clãs tão ilustres, "de homens valorosos e fortes e de mulheres altivas e cheias de coragem e beleza".

Um primo de seu bisavô materno, o Dr. Augusto Santa Cruz de Oliveira — promotor de Justiça e neto do patriarca Theotonio da Santa Cruz Oliveira, juiz e deputado — protagonizou, com o proprietário rural e líder político teixeirense Franklin Dantas (com vistas à intervenção federal e consequente queda do presidente estadual João Machado), a célebre revolta surgida em 1912 na região de Monteiro, com o envolvimento de várias outras localidades do interior, do Cariri ou não: Taperoá, Patos, Sumé, São João do Cariri, Santa Luzia, Soledade, Teixeira e cercanias.

E não já existe uma Santa homônima?!

Com tal respaldo histórico-genealógico, não é de admirar que Clotilde tenha, entre seus irmãos, o crítico generalista, multiescritor, cronista, filósofo, articulista e premiado autor de ficção científica Bráulio Tavares. No caso de mui culto, lido e de normal reservado Bráulio [au grand complet Bráulio Fernandes Tavares Neto], dir-se-ia com maior razão que é autor de science fiction, porque seus trabalhos são consumidos & premiados, da mesma forma, em inglês, nos EUA e alhures. Sua coluna no Jornal da Paraíba, sempre mui bem pesquisada e superiormente escrita, é leitura obrigatória para muita gente boa, no Estado e fora dele.

O escritor e artista plástico W. J. Solha enxerga a Paraíba como celeiro de gênios, terra de mentes privilegiadas no concerto dos Estados brasileiros. Estão aí o Bráulio, a Clotilde, o próprio Solha e muitos outros que não o deixam mentir. Além de todas as suas ocupações, Bráulio mantém pelo menos dois movimentados e frequentadíssimos blogs na Web: Mundo Fantasmo (em português) e The Reading Gaol (em inglês — e referência prenhe de sugestas à prisão britânica [gaol = jail] em que esteve preso Oscar Wilde).

Clotilde — "fiscal da Natureza e doida por novidades" — não deixa por menos. Uma das pioneiras do uso literário da Internet no país, ela atua simultaneamente em vários sites, blogs, listas de discussão etc — todos por ela criados para discutir assuntos sérios, mas também levar um pouco de humor ao ciberespaço. Seu blog "Umas & Outras" é diariamente atualizado. A partir dele surgiu o newsgroup ou lista de discussão homônimo, com muita gente preclara (da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco etc) versando uma infinidade de tópicos. Como moderadora, Clotilde é adorada pelos listeiros, que podem falar livremente sobre tudo o que quiserem — desde que não usem baixo calão e/ou desrespeitem os colegas.

Clotilde-em-si é dona de imbatível senso de humor. Quando surge algumflame ou rusga entre os membros da lista de discussão (principalmente devido a itens políticos), ela se sai com alguma boutade engraçadíssima. Recentemente, para encerrar acre discussão entre lulistas e serristas, ela postou uma de suas tiradas mais recentes: "Ai, como eu queria ser Santa canonizada pela Igreja Católica! Já pensou: Santa Clotilde Tavares, defensora de nossos projetos culturais!". Isto bastou para uma série de postagens risíveis. Eu mesmo me fingi de correspondente da Agência DruzzPress junto ao Vaticano e comentei (inclusive em 30 décimas de versos de 12 sílabas)... as reações da Santa Sé ante tais pretensões canonizatórias. Como sempre, foi aquela hilaridade geral — e lista voltou à costumeira paz.

Mas, falando sério, teríamos, com tal santificação, salvo engano, a segunda Santa Clotilde da cristandade: já existe aqueloutra que, se não nos falha a memória, viveu entre os séculos V e VI d.C. Muitíssimo representada na arte medieval, ela se casara com o rei Clóvis (circa 466-511), fundador da dinastia merovíngia, elite que comandou os francos por uns 200 anos. Linhás, foi Dona Clotilde, depois santa, quem converteu ao Cristianismo o marido (e naturalmente todos os súditos, pois isto era coisa "automática").

A Clotilde de hoje participa de tudo quanto é movimento cultural de destaque. No XIII FENART, ministrou gratuitamente sua oficina literária sobre Cordel (ensinando "como se constroem as estrofes usadas nos folhetos" de feira) — e logo depois já fazia conferência sobre "O escritor e a Internet". No entrementes, instalou-se diante do mar de Tambaú, interconectada ao Mundo com todos os seus equipamentos computo-telemático ligados.

Já colocou on line dois de seus livros, para download gratuito — e mesmo assim as vendas aumentaram

Batendo papo, nas esquinas da noite, com a incansável Clotilde, ficávamos, eu e minha dileta amiga Petra Souto, tomando sobriamente nosso vinho, ao passo que a sacro-endiabrada Clô sorvia com ainda maior sobriedade seu... suco de uvas! E, graças a argumentação médico-sanitário-higienista, convencia-nos de que tal sumo essencial tinha as mesmíssimas propriedades do enológico produto — haja vista provir também das uvas, como o rótulo já descrevia. Por essas conversas sem fim e pelo ulterior estudo, fomos sabendo mais e mais sobre Clotilde.

Autora multipremiada, com obras nos mais diversos estilos e níveis, ela já colocou dois livros seus (Coração parahybano e Formosa és) para downloadgratuito na Web. Sustenta e comprova que, ao contrário da crença geral, as vendas dessas obras aumentam se o autor as disponibilizar on line. "Quanto mais gente baixar de graça, mais gente vai comprar o livro de papel", sentencia.

Com argumentação deste jaez, convenceu editores a permitirem acesso gratuito às cópias digitais dos livros, a exemplo de nosso incomum amigo comum Heitor Cabral, dono das Edições Linha d’Água, um dos muitos editores brasileiros de Clotilde — mulher que não cabe numa só página, pelo que estaremos aqui de volta, com ela, no próximo domingo.

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